Os raios, trovões, relâmpagos e o barulho da chuva não me deixavam dormir. Fora o frio que me causava. Olhei da janela e não havia ninguém na rua. No relógio marcava 21:00 pm. Sei que é perigoso, mas é a chance. A chance de me livrar de todas as brigas de família, de me livrar de tudo o que as pessoas me causam. A questão é: como vou fazer isso? Tá, pensa (seu nome), pensa! Já sei! Abri o guarda-roupa, peguei uma capa e me vesti com um casaco, e pus um par de botas. Peguei uma mochila, e dentro dela, coloquei meu guarda-chuva. Sem fazer barulho, caminhei até a cozinha, peguei uma garrafa de água, e um pacote de biscoitos. Ainda devagar e sem fazer barulho, peguei meu celular, coloquei no modo silencioso, um fone de ouvido, e o carregador, caso fosse necessário. Sem quebrar o silêncio, toquei delicadamente as chaves, e bem devagar, num ato severo, a puxei e segurei com toda a minha mão. Coloquei tudo dentro da mochila, menos a chave. Por sorte, consegui o que queria sem atrapalhar o som da chuva. Mas ainda faltava o principal: sair dali. Com a chave, que ainda tinha em mãos, abri a porta, e deixei a casa em questão de minutos. Fechei a porta, e antes que fizesse qualquer coisa, parei, e observei a chuva, olhei em volta e pensei como sentiria falta do cheiro das flores da varanda da Senhora Jackson, de ficar curiosamente olhando para a janela do Zayn -e ver ele trocara de roupa-, daquela rua calma, e tudo o que havia ali. Mas pensando novamente, nunca poderei me sentir bem aqui, não com as brigas dos meus pais, não com uma irmã mais velha que não quer me ver bem, não com esses "amigos" de escola que tenho, não com tudo o que sofro. Desci os três degraus que separavam a porta de entrada e o jardim, corri antes que alguém visse, e finalmente me deparei na calçada. Pela primeira vez, eu pude me sentir livre de tudo, só não sabia o que aconteceria nas próximas vinte e quatro horas. As gotas frias tocavam meu rosto, mas eu precisava andar, sem me preocupar com isso. Da mesma forma, eu precisava me esconder, muitos ali me conheciam. Foi na mesma hora que um carro preto parou próximo de onde eu estava, e então me virei depressa. Abaixei a cabeça, e dei alguns passos.
Xx: Ei, garota! O que faz aí a essa hora na noite?!
Vagarosamente, virei minha cabeça e respondi com a voz falhada.
Você: E-eu... Am...
Xx: Não diga nada! Entre!
Me assustei com aquele tom de ordem com que ele falou, mas eu não podia obedecer. O sujeito era alto, musculoso, e usava uma jaqueta de couro preta. O que eu poderia fazer num momento desses? Estava com muito medo.
Xx: Ande logo! ... Entre nesse carro agora, ou...
Antes que ele me dissesse qualquer outra coisa, saí correndo pela rua á fora, sem olhar para trás. Virei na primeira esquina, e com a rapidez, acabei esbarrando em alguém, deixando minha mochila cair.
Xx: Ah, me desculpe eu... -interrompi
Você: Ai meu Deus, por favor, me ajuda, eu preciso sair daqui, aquele cara tá me seguindo! -disse desesperada
O garoto olhou e o homem já estava perto.
Xx: Espera, deixa eu te ajudar.
Você: Me ajudar como?! Eu tenho que ser rápida, eu vou morrer!
Ele pegou minha mochila, juntamente com tudo o que caiu, e rapidamente colocamos lá dentro. Nisso, o cara já estava dobrando a esquina. Nos levantamos, e o menino me puxou pelo braço. Corremos e nos molhamos bastante, não somente pela chuva, mas também pelas poças que encontramos pelo caminho. Entramos num circo -aquele circo estava abandonado fazia anos- e foi quando o cara parou de nos seguir para nos ameaçar.
Xx: Vocês vão se dar muito mal!
Ignoramos aquilo completamente e continuamos correndo, com medo de que ele ainda pudesse nos alcançar. Paramos quando já estávamos bem longe da entrada.
Você: -respirando ofegante- Você... é louco! Mas de qualquer forma... obrigado!
Xx: De nada... meu nome é Harry... -disse entre suspiros
Você: Meu nome é (seu nome).
Harry: O que faz por aqui á essa hora da noite?
Você: Não se importe comigo. -gif-
Harry: Agora que nos conhecemos, eu quero saber.
Você: Tá, eu fugi de casa.
Harry: O que?
Você: É, fugi.
Harry: Você é mais louca do que eu pensava! Vem, eu vou te levar de volta. -me puxando
Você: Não! Se eu quisesse voltar, eu não teria fugido! -me soltando
Harry: Tá, mas por que você fez isso?
Você: Meus pais, minha irmã, meus colegas de classe...
Harry: Não liga pra isso. Você acha que na rua você vai se dar bem?
Você: Como pode ter certeza do que diz?
Harry: Acredite. Pelo menos na sua casa você tem comida, cama e banheiro.
Você: Mas isso é o mínimo.
Harry: Tem dinheiro pra pagar um hotel pelo menos?
Você: Am...
Naquele exato momento, lembrei de que aquilo era a única coisa que faltava.
Harry: Já entendi tudo. Vem, minha mãe não vai se importar de ter você lá.
Você: Tá me chamando pra dormir na sua casa?
Harry: Sim, algum problema?
Você: Eu te conheço faz 10 minutos!
Harry: Se eu não fosse confiável, não te ajudaria esse tempo todo.
Você: Mas eu não posso fazer isso. Se sua mãe me mandar de volta pra casa, eu tô frita!
Harry: Não liga pra isso, eu não vou deixar.
Você: E o que um garoto como você pode fazer?
Harry: O que você quis dizer com isso?
Você: Nada vai, assunto encerrado.
Harry: Vamos?
Você: Fazer o que, né? Tem outra escolha?
Harry sorriu -gif-, e enquanto caminhávamos em direção á saída, fomos conversando.
Você: Ei, você não me contou o que fazia na rua.
Harry: Estava voltando de uma festa.
Você: Nossa, que garoto certinho, voltando da festa cedo! -rimos
Harry: É que minha mãe não sabia dessa festa, para ela eu estava fazendo trabalho na casa de um amigo. -rindo
Você: Que garoto ousado! -rimos
Demos boas gargalhadas depois daquilo, entrando em vários assuntos, assim nos conhecendo um pouco. Em minutos, Harry bloqueou nossos passos, e meu coração de repente começou á bater mais forte.
Você: O que foi?
Harry: Ouviu isso?
Você: Sim, mas não foi na rua?
Harry: Estamos muito longe da rua.
Você: Harry, eu tô começando a ficar com medo.
Harry: Calma, vamos ver se tem alguém aqui.
Você: Não, por favor, vamos sair daqui o mais rápido possível.
Harry: Espera, eu acho que vi alguma coisa.
Você: Harry vamos embora... Harry! -gritei
Um corvo passou bem perto de nós, e voou para bem longe, mas como eu deixei minha cabeça abaixada, nem vi para onde ele foi.
Harry: -gargalhou- A sua cara ficou hilária! -gif
Você: É porque você não viu a sua! -rimos
Harry: O que foi aquilo?
Você: Não tente me assustar de novo!
Harry: Dessa vez é sério, (seu nome). Eu vi alguma coisa.
Você: Harry, eu já disse, vamos sair daqui, por favor!
Harry: Vamos.
Corremos em trote lento, mas chegamos sem demora, e nos deparamos com o portão trancado, logo mais, um corvo.
Você: Não pode ser!
Harry: A gente pode tentar pular.
Você: Não, você não vê que tem ganchos ponta no portão? -imagem- E além do mais está chovendo.
era um portão mais ou menos assim ;) |
Harry: Como vamos sair daqui?
Você: Eu não sei. Podemos tentar outra saída.
Harry: Tudo bem. Só eu que não fui com a cara daquele corvo?
Você: É só um corvo.
O corvo voou assim que Harry acabou de falar. Caminhamos mais um pouco -enquanto a chuva já ficava mais fraca, se tornando praticamente uma garoa- e resolvemos entrar num picadeiro para se esquentar, pois sabíamos bem que aquilo não iria terminar tão cedo. Tudo era absolutamente temível. Assim que chegamos, por estar escuro, usei a lanterna que havia deixado já há algumas semanas na minha mochila. Nos sentamos no que parecia ser o lugar onde ficava a platéia.
Harry: Temos que arrumar um jeito de sair daqui. Mesmo sendo só um corvo, eu tô com medo, muito medo! Corvos são traiçoeiros!
Você: Acabou de dizer o mestre dos corvos! Além do mais, eu não estou nem aí para este lugar. Acho que vou fazer daqui a minha nova casa, ficando longe das pessoas que me fazem sofrer, já é tudo.
Harry: Para de dizer besteiras! -gif- Onde você vai dormir? Como vai achar dinheiro? Como vai se manter viva?
Você: Tá você tem toda razão, mas para aquela casa, eu não volto nunca mais!
Harry: Eu até te entendo nessa parte, mas vamos mudar de assunto, temos que sair daqui.
Você: Vamos tentar procurar outro atalho. Talvez haja um muro, ou achamos uma chave ou... -ele me interrompeu
Harry: Espera. Se liga numa coisa. Quem trancou o portão?
Você: Alguém, talvez não estivéssemos sozinhos, pode ser que alguém vem aqui cuidar das coisas...
Harry: Quem viria trancar o portão de um lugar abandonado, no meio da chuva, essas horas da noite?
Você: Tem razão, mas... você não está pensando ser algo macabro, está?
Harry: Não, eu não acredito nessas coisas.
Mal Harry terminou sua fala, e a lona caiu acompanhada de turbulentos barulhos de trovões. Por desespero, eu e ele caímos e nos afastamos.
Harry: (seu nome), você está bem?!
Você: Sim, mas eu perdi minha lanterna, ela saltou da minha mão!
Harry: Onde você está?
Você: Não me leve a mal, mas como é que eu vou saber?
Harry: Ah é, desculpa.
Fomos procurando um ao outro por meio do tato, e gritei ao sentir uma mão gelada agarrar firmemente meu pulso.
Você: Aaaaaaah! HARRY!!
Harry: O que foi, calma, sou eu!
Você: Seu tonto! Eu quase morri de susto!
Harry: -gargalhou- Vem, vamos, precisamos achar a saída.
Caminhamos grudadinhos para não nos perdermos um do outro. Harry me fazia sentir diferente, ele era legal, e me ajudou desde o início. Fora que ele é bem gatinho -hahahaha- mas eu não quero parecer caída por ele. Ficamos em silêncio o tempo todo até chegarmos finalmente para fora da lona, seguindo o caminho da luz. Não parava de chover, e o cabelo do Harry estava escorrido, foi engraçado. Quando saímos comecei a sentir falta da minha mochila.
Você: Harry... você pegou minha mochila?
Harry: Não...
Você: Só me faltava essa, eu tinha tudo lá dentro.
Harry: Mas vamos nos focar em sair daqui. Antes perder somente uma mochila, do que perder a vida.
Você: Harry, você tá me assustando. O que quer dizer com isso? Você mesmo disse que não acreditava em coisas macabras.
Harry: Agora eu confesso que estou com um pouco de medo. Tudo tá se encaixando perfeitamente, é estranho. Lembra quando o homem que tava te seguindo disse que iríamos nos dar mal? É estranho, pois depois disso ele não nos seguiu mais.
Você: É verdade. Ele provavelmente sabia do que iria acontecer.
Harry: E aquele corvo? Por que logo após dele ter nos assustado, ele apareceu numa das pontas do portão?
Você: Tem alguma coisa nesse corvo, sinceramente, eu também estou com medo dele.
Harry: Aquela lona também.
Você: E justamente após você dizer que não acreditava nisso.
Ouvimos um barulho nada comum. O sentimento de medo tomou conta de mim, e eu corri para os braços de Harry.
Harry: Não fica com medo, por favor, eu estou aqui.
Você: Eu não quero isso... Eu não saí de uma vida ruim, para me enquadrar em meio á fantasmas. Não quero pensar que não posso sair daqui, ou que vou sair daqui sendo perseguida por alguém que nem mesmo posso enxergar! Harry, vamos sair daqui. Me diz que tudo vai ficar bem, por favor!
Harry: Nós vamos sair daqui, tudo vai ficar bem, você está comigo. -beijou na testa
Era impressionante como o Harry me fazia sentir especial, eu nunca me senti tão bem antes -apesar de estar ferrada-. Nos desabraçamos, e ficamos nos olhando com os olhos marejados, sem dizer sequer uma palavra. Foi quando por um segundo, percebi algo numa barraquinha [abandonada].
Você: O que é aquilo? -gif-
Harry: -se virando assustado- Aquilo o que?
Você: Eu vi um vulto.
Harry: Eu também vi alguma coisa...
Ficamos olhando tudo por todo canto. Sabíamos os dois que precisávamos sair dali, antes que as coisas ficassem pior. Harry me puxou, e corremos novamente até o portão.
Harry: A gente precisa tentar!
Você: Mas, Hazza... Quer dizer... Harry, eu tenho medo...
Harry: Segura a minha mão. Eu não vou deixar que nada aconteça com nenhum de nós.
Um dos pés de Harry se apoiaram na grade horizontal do portão, no mesmo momento em que ele segurava forte a grade vertical com a mão. Com impulso, ele colocou o outro pé e subiu mais um pouco. Num ato hiper rápido, ele saltou o portão, enquanto eu ainda estava do outro lado.
Você: Harry, eu não vou conseguir.
Harry: Você tem que conseguir.
Você: Vai embora, me deixa aqui.
Harry: Eu não posso fazer isso, (seu nome). Vem, pega minha mão.
Ele estendeu a mão entre o portão, e ainda um pouco trêmula, eu segurei forte, e fui subindo devagar. Cheguei no topo, e de repente senti minhas forças indo totalmente embora, e acabei caindo, tendo meu abdômen perfurados pelos ganchos do portão.
Harry: (seu nome)!!! -gritou
Não vi mais nada...
GENTENEY
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